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12 de fevereiro de 2012

12

E tenho esta imagem permanentemente por detrás dos olhos: escadas. Degraus envoltos em musgo, uma ténue camada. Uma dúzia de passos pequenos e cuidados.
Assim contorno a chuva miúda, o chilrear dos morcegos ao entardecer: com 12 degraus, demasiado claros para serem irreais.
Talvez os tenha visto algures e armazenado numa das inóspitas gavetas da memória. Talvez os tenha subido enquanto criança. Talvez tenha de os descer agora.
Que simbolismo poderá existir, se é que existe sequer interpretação para a frágil camada de musgo… Que faço eu aqui, por detrás dos olhos? Ao invés de consumir as coisas belas, reais, palpáveis, que desfilam perante a íris entorpecida?
Para além do vidro baço a vida desenrola-se: veículos em movimento, café quente a borbulhar, livros alinhados, pequenas flores a brotar, pássaros…
Sempre os pássaros.
Muito para além dos olhos, das relíquias da memória, dos degraus… Os meus pássaros a sobrevoar-me a almofada, exclamando o nome que julguei ter esquecido.
Eis que me levanto, 12 passos enfrente, pelo corredor, rumo ao café borbulhante e aos cavalos que fazem sombra no mar.

Que sentido fará tudo isto?



Raquel Dias

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