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2 de abril de 2012

pelo nome de espírito.

E nós que sempre fomos tão a favor do suicídio. Crescemos, aprendemos, e as nodoas negras acumulam-se em belas tonalidades nos joelhos.
Observo a água, os raios de sol refletidos, o potencial de tudo isto. Tu sabes.
Falo-te da alma, vejo-a tão claramente nas entrelinhas, na tua respiração profunda, no olhar distanciado, não acreditarias se te enumerasse todas as ocasiões…
Sou dada aos (teus) pormenores, às partículas e à progressão das nódoas negras. Já se faz tarde e eu ainda por aqui ando, à procura de um nada concreto que me vejo incapaz de atingir. Depois vem a música, a poesia, a angústia, a esperança, até que constato a ironia e mordo a pele junto às unhas.
E tu regressas, pronto a envenenar-me a mente, com essas entrelinhas a transbordar de alma…
O impronunciável assombra-me, e ambos sabemos, ambos cometemos a loucura, é segredo, lembra-te, é segredo.
Sei que um dia um de nós matará o animal carnívoro que nos habita a abstração, isso a que dão pelo nome de espírito, e seremos por fim livres, quiçá por fim felizes, mais miseráveis que em toda a vida.
E nós, que sempre fomos tão a favor do suicídio, teremos por certo uma solução caso a chacina dê para o torto.


Raquel Dias

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