Tolstói declarou
nas primeiras linhas de Anna Karenina que "todas as famílias felizes são
iguais; mas cada família infeliz é infeliz à sua maneira". Esta podia ser
a introdução de August Osage County.
Oklahoma aparenta ser um local tranquilo e fastidioso, onde nem uma palha se
move nas intermináveis tardes soalheiras. Mas todos já sabemos como as
aparências são enganosas…
Esta paisagem desértica acolhe um clã de personagens
disfuncionais e insanos que protagonizam uma dura e crua realidade familiar.
Trata-se de um drama extravagante e poderoso que expõe os segredos e a
perversão dos Weston sem qualquer misericórdia.
Uma frase curta e áspera abre-nos as portas: "life is very long". Pressente-se
a dor e sobretudo o esgotamento. A vida foi de facto longa e espinhosa para
Beverly, patriarca da família Weston, intelectual de tendências alcoólicas e ponto
de partida de toda a trama. O seu desaparecimento – suicídio, na realidade - reúne as irmãs Barbara,
Karen e Ivy e atesta a casa de conflitos comoventes. Violet, que pouco tem de
mãe ou de adulto exemplar, afirma amargamente que é apenas "truth
telling" ao esmagar cada membro da família com comentários glaciais. O que seria um período de luto e homenagem transforma-se numa deflagração de
ódios reprimidos e num desfilar de verdades inconvenientes. Enquanto as
revelações se acumulam - incluindo incesto e tentativa de abuso
sexual - os agredidos começam a fugir um por um, em desespero.
Apenas Barbara parece alcançar a catarse no meio de tamanha balbúrdia. [Não se
sabe se a fuga é momentânea ou definitiva. Apenas sabemos que é serena.
Libertadora.]
Concluindo:
excelentes interpretações, excelente banda sonora. A trama, como já se sabe, é
fabulosa – não fosse a peça vencedora de um Pulitzer e Tony. Os diálogos,
inteligentes e imprevisíveis, ficam a ecoar na memória. Eis um drama feroz
temperado com altas doses de humor negro como há muito não se via.
Se "lavar a
roupa suja" fosse um género, este seria o meu filme preferido
Raquel Dias
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