Páginas

6 de agosto de 2011

Boa Noite

Um voluptuoso “Boa noite” soou na entrada
assim que a porta se abriu rudemente
rangendo de velhice
arrastando-se pelo soalho
pela mão de um odioso mordomo.
O Boa Noite ecoou pelo corredor
e atingiu rapidamente o salão principal
onde, requintadamente assentada
se encontrava a velha matriarca
que recebeu o cumprimento com um delicioso sorriso.
O rapaz entrou e enfiou as mãos nos bolsos,
de tão seguro do seu inequívoco charme,
e atravessou o corredor numa passada larga.
Já por esta altura ela se havia levantado
e ajeitado o vestido junto às ancas
enquanto aguardava
deleitada,
a chegada do seu amante.
O jovem rapaz deixou-se conduzir
rumo ao primeiro andar
onde lençóis encarnados do mais pomposo cetim
aguardavam pelo pulsar do seu corpo
(preferencialmente) sob o da sua gasta deusa.
Ali se beijaram sem afecto,
e se despiram com algum pudor,
sem trocar uma palavra que fosse.
Após todo o labor,
o rapaz estava prestes a adormecer
quando a velha se levantou
e sacolejou-o agressivamente
pronunciando:
- Aqui tens o dinheiro, agora põe-te a andar.



Raquel Dias

1 comentário:

Gonçalo disse...

UUUUHHHH, um lado mais negro e sarcástico na literatura, sra. Raquel? :D