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19 de agosto de 2011

rosa de pólvora

Sem saber porquê, acordou sobressaltado, com o coração a pulsar amargamente no céu-da-boca.
Pressentiu uma presença subtil atrás da porta. Não se tratava de alguém; era algo que lá estava. Algo que o vigiava atentamente através da escuridão do quarto.
Voltou a fechar os olhos, confiando que isso faria com que aquilo desaparecesse… Mas a sensação mantinha-se. Persistia um olhar vindo da porta.
O terror apoderou-se de todo o seu corpo, gelando-o e tornando-o quase translúcido, à medida que a pressão do olhar aumentava através dos cobertores; conseguia sentir o seu peso a esmaga-lo.
Aquilo estava a aproximar-se. Ouvia os seus passos a destabilizar o soalho, cada vez mais perto, mortalmente mais perto…
No cume do seu pavor, sentiu uma mão puxar o cobertor deixando-lhe o corpo mirrado ao descoberto, completamente desamparado, à mercê do confronto derradeiro.
A mão tocou-lhe gentilmente no ombro.
Nada mais lhe restava naquele momento, tinha de encarar aquilo
Girou vagarosamente o corpo e abriu os olhos: estava na hora.
Recebeu a rosa de pólvora e deixou-se morrer.



Raquel Dias

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