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30 de abril de 2012

assim ao de leve...


E,

Rabiscos do teu rosto neste mesmo caderno.
Quantos dias passam sem que os encontre, sem que retorne a nostalgia (prefiro denomina-la assim, que a saudade não te pertence).

Vasculho a memória, gosto da dor de recordar-te, recordar-nos, neste mesmo quarto, tu demasiado seguro e eu anestesiada de delírios, às custas do cheiro da tua pele estival.
- Não te suporto mais
e em breve outra terça-feira, a certeza da tua ausência, demasiadas hipóteses a decifra-la, sei cada desculpa ao pormenor, oh, soubesses tu desta loucura… 

Os rabiscos desajeitados do teu rosto poucas páginas adiante, tivesse eu mais jeito e ter-tos-ia dado naquela tarde na biblioteca em que tu davas-me ao mão, pedias-me um cigarro, um beijo nas entrelinhas…
Nostálgica e imersa neste caderno que te contem em demasia, vacilo entre
- Não te suporto mais
à medida que nos desconhecemos, gradualmente nos ignoramos, em breve nem nos cruzaremos mais pelas ruas,
e a noção de que
- Amei-te, assim ao de leve
por um breve momento, onde quase fizemos sentido.

A tua silhueta ainda por detrás das cortinas, eu a chamar-te, eu a conter-te a loucura, e eu agora a escrever-te sem que desconfies.
Entretanto passou-se quase uma vida, à velocidade de novos e velhos rostos que surgem e se confundem, e eu vejo-te sorrir sentado no sofá, à incómoda distância do amor-próprio, sem te dizer que sim, sem permitir-me a amar-te uma vez mais, nem mesmo ao de leve…

E agora termino-te nestas linhas, cada vez mais próximas do teu rosto infantilizado pela minha falta de talento.
Um ponto final e tudo se extingue,
e quem estarei a tentar enganar?
...



Raquel Dias

1 comentário:

artista sem pena disse...

Bonito e forte!
A influência do espanhol nos teus escritos é clara, mas não distorce nada.Curti!
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