E,
Rabiscos do teu rosto neste mesmo caderno.
Quantos dias passam sem que os encontre, sem que retorne a nostalgia (prefiro
denomina-la assim, que a saudade não te pertence).
Vasculho a memória, gosto da dor de recordar-te, recordar-nos, neste mesmo
quarto, tu demasiado seguro e eu anestesiada de delírios, às custas do cheiro
da tua pele estival.
- Não te suporto mais
e em breve outra terça-feira, a certeza da tua ausência, demasiadas hipóteses a decifra-la,
sei cada desculpa ao pormenor, oh, soubesses tu desta loucura…
Os rabiscos desajeitados do teu rosto poucas páginas adiante, tivesse eu mais jeito e ter-tos-ia dado naquela tarde na biblioteca em que tu davas-me ao mão, pedias-me um cigarro, um beijo nas entrelinhas…
Nostálgica e imersa neste caderno
que te contem em demasia, vacilo entre
- Não te suporto mais
à medida que nos desconhecemos, gradualmente nos ignoramos, em breve nem nos
cruzaremos mais pelas ruas,
e a noção de que
- Amei-te, assim ao de leve
por um breve momento, onde quase fizemos sentido.
A tua silhueta ainda por detrás das cortinas, eu a chamar-te, eu a conter-te a
loucura, e eu agora a escrever-te sem que desconfies.
Entretanto passou-se quase uma vida, à velocidade de novos e velhos rostos que
surgem e se confundem, e eu vejo-te sorrir sentado no sofá, à incómoda
distância do amor-próprio, sem te dizer que sim, sem permitir-me a amar-te uma
vez mais, nem mesmo ao de leve…
E agora termino-te nestas linhas, cada vez mais próximas do teu rosto infantilizado pela minha falta de talento.
Um ponto final e tudo se extingue,
e quem estarei a tentar enganar?
...
Raquel Dias
1 comentário:
Bonito e forte!
A influência do espanhol nos teus escritos é clara, mas não distorce nada.Curti!
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