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19 de novembro de 2012

réplica

O sol nascia algures no horizonte quando uma chuva esguia desatou a cair. De facto existem árvores na minha rua, ainda que não se assemelhem… A nostalgia invadiu-me: a cor do céu era rigorosamente a mesma e o meu estado de ânimo pouco se diferenciava. Um tacto preciso que eu reconheci instantaneamente; tratava-se de uma réplica. Não posso convencer-me de que fora propositado. São os acasos, convenha-se. Acasos deleitosos, sismos contínuos e devidamente espaçados. A atmosfera silente da manhã a rasgar o céu, os passos sem eco, a chuva frágil, todo o evocar de um outro estado, quase que de uma outra vida. Às vezes parece-me demasiado irreal. Ainda que ciente das evidentes discrepâncias, um conjunto espectacular de similaridades tocou-me e envolveu-me: estranhava ao mesmo tempo que me ecoava estrondosamente familiar.
A chave combaliu-se inicialmente. Mas aceitei a derrota, o regresso à trivialidade, à realidade (?); mais uma vez, a impressão de que colocam-me parênteses por toda a parte. Para lá das janelas e da estranha tonalidade do amanhecer, reestabelecem-se os contornos de sempre. E eu, exausta de retorsões e caipirinhas, adormeço de sorriso.

Raquel Dias

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