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30 de setembro de 2013

circo de pensamentos



Na sobreposição das ideias dá-se um espectáculo de agonia bastante peculiar, como um circo de horrores em que os personagens – sejam acrobatas domadores ou palhaços – combatem pelo protagonismo numa selva de talentos duvidosos. Lutam até à aniquilação dos adversários recorrendo a todo o tipo de artimanhas e esquemas, tudo é permitido, até arrancar olhos. 
O espectador, que é também quem alberga os conflitos no salão prodigioso da mente, não é inteiramente passivo. Apesar de evitar manifestar-se e agir, a verdade é que geralmente torce pelo palhaço. Logo arrepende-se, claro, e alegra-se quando um ginasta lhe pontapeia o estômago. 
No cerne de tamanha balbúrdia reside uma profunda incompreensão, diria até medo. A desordem é o estado natural das coisas. A organização é perseguida a medo porque pressupõe selecção. Pressupõe que se esteja convicto da disposição ideal dos elementos, quais as prioridades? quais os nomes?… E isso sim assusta. Bem mais que domadores e saltimbancos às facadas. 


Raquel Dias

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