Na sobreposição das ideias dá-se um espectáculo de agonia
bastante peculiar, como um circo de horrores em que os personagens – sejam acrobatas
domadores ou palhaços – combatem pelo protagonismo numa selva de talentos duvidosos.
Lutam até à aniquilação dos adversários recorrendo a todo o tipo de artimanhas
e esquemas, tudo é permitido, até arrancar olhos.
O espectador, que é também quem
alberga os conflitos no salão prodigioso da mente, não é inteiramente passivo. Apesar
de evitar manifestar-se e agir, a verdade é que geralmente torce pelo palhaço. Logo
arrepende-se, claro, e alegra-se quando um ginasta lhe pontapeia o estômago.
No
cerne de tamanha balbúrdia reside uma profunda incompreensão, diria até medo. A
desordem é o estado natural das coisas. A organização é perseguida a medo
porque pressupõe selecção. Pressupõe que se esteja convicto da disposição ideal
dos elementos, quais as prioridades? quais os nomes?… E isso sim
assusta. Bem mais que domadores e saltimbancos às facadas.
Raquel Dias
Sem comentários:
Enviar um comentário