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10 de dezembro de 2013

querem envenenar-me

anoitece arrefece a cidade não pára não cessa
a pressa vai nos passos vai nas cabeças
nas miradas vesgas a quem passa ao lado
no rescaldo da noite besta animal
a manhã sabe-nos mal mas vamos
penetramos as ruas de mãos nuas e frias
alegoria de uma vida outra qualquer outra
uma consciência rouca que se custa a ouvir
vem faminta desde o cerne a dizer-me que espere
mas eu tenho de ir
aqui querem envenenar-me
querem dar-me a vida pela metade
- mas eu quero arte e amar-te sem sentido
o perigo adjacente a ser-se gente sem ouvido
mas cujos olhos repousam na cidade
na efemeridade de saber-lhe o sentido


Raquel Dias

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