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12 de janeiro de 2014

Nick Drake, o mito

O quarto está vazio, silencioso, abandonado à escuridão. Drake não voltará a casa esta noite.

Como se filma a biografia de um artista cuja vida fora tão curta e enigmática?
No documentário “A Skin too few”, a solução foi apostar na estética. A informação pode parecer escassa mas o ambiente recriado sugere-nos o suficiente para que possamos imaginar quem foi Nick Drake.O seu talento foi ignorado e conservado nas sombras durante os seus breves 26 anos de vida. Suicido ou overdose, ninguém sabe ao certo. Aparentemente, nem a própria família conhecia o jovem que vivia no quarto da janela redonda.
Drake é descrito como um rapaz tímido, introvertido e obcecado pela sua guitarra. Apesar de ter iniciado uma carreira promissora no mundo da música, o desencanto foi prematuro dado que ninguém lhe prestava a devida atenção. Hoje em dia, quantos de nós não daríamos tudo para apreciar Riverman ao vivo? Um caracter já de si depressivo e solitário obscureceu-se perante a deceção. Suicídio ou overdose? A segunda opção é realmente mais convincente.
A sua breve aventura musical foi doce e melancólica. Em 1969, com apenas 21 anos, Drake lançou o primeiro álbum “Five Leaves”, que imortalizou algumas das suas melhores composições. Em 1970 lançou “Bryter Layter” que também não chegou sequer a roçar o êxito. “Pink Moon”, gravado em Londres em 1972, transparece um óbvio pessimismo e estado depressivo. As canções que produziu depois deste período foram publicadas em 1979, 5 anos após a sua misteriosa morte, no albúm “Fruit Tree”. Esta foi a confirmação de um talento difícil mas sincero.
Foram necessários 30 anos para que uma companhia de carros resgatasse uma das suas canções para um anúncio televisivo. A publicidade fez magia: em poucas semanas, os álbuns de Nick Drake venderam mais cópias do que em todos os anos precedentes.
 A sua aura de músico amaldiçoado fez com que o mundo começasse finalmente a questionar: mas quem foi Nicholas Drake? Num curto espaço de tempo, o músico tornou-se muito mais do que a soma total da sua obra.
O crescente fascínio por esta figura misteriosa motivou a elaboração de “A Skin Too Few”. A voz de Gabriella narra a história do seu pequeno irmão acanhado cujo talento nos assombra actualmente.
Trata-se de um documentário emotivo que tenta penetrar o mito sem descuidar a atmosfera indesvendável que o envolve e caracteriza.
Beleza dolorosa, crua e íntima sob a forma de canções que se assemelham a sussurros. Apesar de toda a melancolia e tristeza, também se pode pressentir a esperança. A certeza de que este era o seu talento, o seu propósito. 





Raquel Dias


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