"Uma das superstições da mente do homem", observou Voltaire, é "imaginar que a virgindade pode ser uma virtude." Uma virtude aos olhos de quem vê, e para quem o objectivo é, paradoxalmente, ataca-la.
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Depois de uma
vida passada nos braços de prostitutas, um anónimo jornalista de 90 anos
descobre o improvável prazer de contemplar o corpo de uma mulher virgem sem a urgência do desejo. “O teatro das nossas noites", chama-lhe.
Num cenário impregnado de imaginação febril e sensações novas, a cortina nunca desce. Para além
do orgulho e da vergonha, um sentimento misterioso brota… trata-se do “início de
uma nova vida numa idade em que a maioria dos mortais já morreu “.
A
pedofilia e a prostituição infantil são abordadas de forma ténue e natural; não
só porque esta é a triste realidade da época, mas sobretudo porque não importa. A
beleza do primeiro amor faz com que se ignore a lei e a moralidade.
Afinal, perante tamanha descoberta, o que são 70 anos de diferança? Quem é que é vai franzir o sobrolho perante um afeto respeitoso e consentido?
O sentimento é quente e esperançoso: todos podemos encontrar um amor genuíno no momento mais inesperado. Até porque, no fundo, coincidimos (e tememos!) que "não há maior desgraça do que morrer sozinho."
Afinal, perante tamanha descoberta, o que são 70 anos de diferança? Quem é que é vai franzir o sobrolho perante um afeto respeitoso e consentido?
O sentimento é quente e esperançoso: todos podemos encontrar um amor genuíno no momento mais inesperado. Até porque, no fundo, coincidimos (e tememos!) que "não há maior desgraça do que morrer sozinho."
Mas vejamos... para além de uma história promissora sobre as maravilhas do enamoramento, o que é que faz de As memórias das minhas putas tristes uma obra sublime?
Well, that dirty old man.
Well, that dirty old man.
Este é um dos maiores personagens de García Márquez,
quase equiparável ao louco romântico Florentino Ariza, cuja determinação para
conquistar aos 70 anos a mulher que o rejeitou nos seus 20, impulsiona e
alimenta toda a trama de Amor nos Tempos do Cólera.
Demente, sujo, solitário. Um personagem que se estima apesar do asco. Um velho imoral que vive para a luxúria sem matar o romântico incurável que nele ainda sobrevive (e aquelas cartas de amor?!) 90 é um número e não sinónimo de iluminação existencial.
A Lolita de traços indígenas também tem o seu encanto... Mas não existe desvirginamento mais profundo que o dos nossos sentimentos aprisionados numa idade em que se deduz que "já se viu de tudo..."
Demente, sujo, solitário. Um personagem que se estima apesar do asco. Um velho imoral que vive para a luxúria sem matar o romântico incurável que nele ainda sobrevive (e aquelas cartas de amor?!) 90 é um número e não sinónimo de iluminação existencial.
A Lolita de traços indígenas também tem o seu encanto... Mas não existe desvirginamento mais profundo que o dos nossos sentimentos aprisionados numa idade em que se deduz que "já se viu de tudo..."
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O filme…
A adaptação do
livro ao grande ecrã foi lançada em 2011 pela mão de Henning Carlsen.
O inominado protagonista é Emilio Echevarría – quem não se lembra do seu
fabuloso papel em Amores Perros? - e a joven Delgadina é Alejandra Barros. Apesar deste improvável casal convencer o suficiente, a atmosfera do livro não
é captada na plenitude (temo não ter argumentos concisos para explicar esta
sensação…)
É uma bonita mas pobre adaptação. Seja como for, vale a pena. Mas depois do livro, sempre depois do livro.
É uma bonita mas pobre adaptação. Seja como for, vale a pena. Mas depois do livro, sempre depois do livro.
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