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11 de novembro de 2016

frutas esféricas



caio da árvore demasiado cedo,
laranja solitária, madura e tão doce que
nem os insectos esfoemados perfuram.
contemplo a rapidez com que
a pele se enruga e os cheiros se tornam
intensamente putricos
como os de uma fruta velha
em pleno exílio

         - morder-me seria saborear

uma espécie de vinho rançoso que,
ao deslizar pela garganta,
magoa como uma
        dezena de unhas finas -
mulher fóssil mulher

penso na
minha idade e
em como a ramagem
se quebra quase
desde a raiz,
quiçás,

o destino das mulheres herméticas é
o mesmo das frutas esféricas:

ceder à gravidade

 

Raquel Dias

 

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