frutas esféricas
caio da árvore demasiado cedo,
laranja solitária, madura e tão doce que
nem os insectos esfoemados perfuram.
contemplo a rapidez com que
a pele se enruga e os cheiros se tornam
intensamente putricos
como os de uma fruta velha
em pleno exílio
- morder-me seria saborear
uma espécie de vinho rançoso que,
ao deslizar pela garganta,
magoa como uma
dezena de unhas finas -
mulher fóssil mulher
só
penso na
minha idade e
em como a ramagem
se quebra quase
desde a raiz,
quiçás,
o destino das mulheres herméticas é
o mesmo das frutas esféricas:
ceder à gravidade
Raquel Dias
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